Importância da reputação: uma análise dos prejuízos nas carreiras de Marilyn Manson e Karol Conká

 Por Wilker Duarte 


Se no universo corporativo a reputação é imprescindível para uma marca, o mesmo conceito se aplica a uma persona pública, independente da área de atuação. Da esfera política ao entretenimento a reputação, quando positiva, pode alavancar uma carreira. Se for negativa, pode arruinar em instantes o que foi construído ao longo de anos. 

Na era das redes sociais, as reputações podem ser facilmente destruídas com a proliferação instantânea e global da informação. Um simples Twitt pode ser tão devastador quanto um sopro em um castelo de cartas. Outro sintoma dos tempos atuais é a famigerada cultura do cancelamento. Assim, a má reputação pode jogar uma personalidade pública, antes idolatrada, no limbo do ostracismo ou pior, em uma queda inexorável rumo ao inferno do ódio coletivo.  

Reputação é tão importante que até mesmo para uma figura controversa como Marilyn Manson, que chegou a se denominar o próprio anticristo, existe um limite.  Ainda hoje, o roqueiro, que lançou o primeiro disco em 1994, é mais conhecido pelos bizarros boatos a seu respeito do que pela própria música.  Entre as lendas sobre Manson, a mais conhecida é a de que ele teria removido algumas costelas para praticar sexo oral em si mesmo.  As excentricidades do cantor, que coleciona ossos humanos e tem um feto, também humano, como souvenir, apenas colaboram para aumentar a mística em torno dele. 

O nome artístico do alter-ego de Brian Warner, ex-jornalista que resolveu virar músico, é uma junção dos nomes da atriz Marilyn Monroe e do líder de uma seita responsável por nove assassinatos, Charles Manson. O visual é grotesco e as letras versam, na maioria das vezes, sobre depressão, corrupção moral e a degradação da sociedade norte-americana. As críticas são direcionadas principalmente ao conservadorismo cristão e aos padrões impostos pelo capitalismo. Tudo isso fervilhando em um caldeirão de angústia e revolta, ingredientes da pantomima que Manson encena e que podem ser saboreados pelo ouvinte na voz que oscila entre lamentos e gritos. 

Mesmo com tudo isso, o homem por trás da figura aberrante de Marilyn Manson recentemente viu as estruturas de sua carreira, até então bastante sólidas na indústria musical, abaladas por uma série de declarações. No início de fevereiro , a atriz Rachel Evan Wood, que foi noiva do cantor entre 2006 e 2010 revelou que ele cometeu diversos abusos físicos e psicológicos contra ela durante todo o relacionamento dos dois. Após as declarações de Wood, outras quatro mulheres também denunciaram publicamente condutas abusivas de Manson, assim como comportamentos racistas e de cunho nazista. Nas próprias letras, o músico já revelava traços de misoginia e fascinação por violência doméstica:

"Você fica tão bonita quando chora/Não quero bater em você / mas a única coisa entre o nosso amor / é um nariz sangrento / e um lábio arrebentado." (Pistol Whipped)

"Gosto de você danificada /  mas preciso de algo a mais / Algo para destruir."  (Threats of Romance)

"Quero bater no seu rosto como um avião. [...] Vou te mostrar onde dói." (Pretty As A Swastika)

Ironicamente, o maior sucesso de Manson é sua versão para Sweet Dreams (are made of this) do Eurytmics, cujo refrão diz: 

Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused

Com a rápida repercussão do caso, o cantor acabou desligado da gravadora Loma Vista Recordings. Em comunicado, a empresa se expressou da seguinte forma: "À luz das alegações perturbadoras de Evan Rachel Wood e outras mulheres nomeando Marilyn Manson como seu abusador, Loma Vista deixará de promover seu álbum atual, com efeito imediato. Devido a esses desenvolvimentos preocupantes, também decidimos não trabalhar com Marilyn Manson em qualquer projeto futuro.”

Manson também perdeu o empresário de longa data, Tony Ciulla, que cuidou de sua carreira nos últimos 25 anos. Para completar, o cantor será cortado das séries de TV Creepshow e American Gods, nas quais atuava. As equipes dos programas confirmaram que os personagens que Manson interpretava serão tirados das tramas. 

No outro extremo, a rapper negra Carol Conká foi eliminada do Big Brother Brasil 21 com 99,17%, o que equivale a maior rejeição da edição brasileira do Reality show. Durante o confinamento, Carol teve uma postura extremamente agressiva contra outros participantes, foi acusada de xenofobia e de tortura psicológica. Seu comportamento logo fez com que o público a “cancelasse". 

Nascida Karoline dos Santos Oliveira, a rapper, produtora, apresentadora e atriz vem de uma família humilde de Curitiba. Desde cedo Carol participava de concursos de rap e de dança, começando sua carreira aos 17 anos. Ficou grávida aos 19 anos, mas não desistiu da música e, através da internet, aos poucos despontou até ser reconhecida nacionalmente. 

Negra, mãe solteira e de origem pobre, ela logo foi identificada como símbolo de mulher vencedora e empoderada, portanto respeitada como exemplo de representatividade para jovens mulheres negras. Assim, com a fama, o reconhecimento e estando em um lugar de fala de uma juventude que demanda cada vez mais seus direitos, a cantora fez inúmeras parcerias, participou de vários programas de TV e gravou comerciais para inúmeras marcas. 

“Calma, não se assuste eu vim do gueto, tô no luxo/ Ao som de preto eu vô com tudo/ No meu jogo eu sou o principal vencedor/” (Gueto ao Luxo)

Mas boa parte disso desmoronou por causa de sua conduta no BBB. Como Manson, Carol teve prejuízos na carreira pela reputação ruim que conquistou na Casa. O Festival Rec-Beat suspendeu o show de Karol Conká por considerar as condutas dela no reality inadequadas. A rapper perdeu uma quantidade enorme de seguidores no Instagram, teve adiada por tempo indeterminado a estréia do programa Prazer Feminino, que seria apresentado por ela e pela também ex-BBB Marcela McGowan.  Para Carol, o prejuízo financeiro estimado pode chegar a cinco milhões de reais.  

Como se pode perceber, até para o diabo a reputação é importante. 




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