Resumo: A comunicação como trabalho no capitalismo de plataforma: O caso das mudanças no jornalismo



Por: Talita Vasconcelos Brandão


No artigo “A comunicação como trabalho no capitalismo de plataforma: O caso das mudanças no jornalismo” as autoras Roseli Fígaro e Ana Flávia Marques argumentam sobre a relevância da comunicação ser reconhecida nos processos de trabalho e também ser entendida por ela mesma como trabalho.

Os meios de comunicação como meios de produção

Assim, usando como suporte bibliográfico o teórico Raymond Williams, o texto aborda os meios de comunicação como meios de produção. Ou seja, os processos comunicacionais como inerentes ao trabalho e ao funcionamento do sistema econômico.

Neste contexto, da mesma forma que as máquinas a vapor mudaram as relações de trabalho na revolução industrial, no capitalismo de plataforma, onde empresas operam com tecnologia digital em rede, os objetivos originários do capital de gerar lucro e concentrar renda são seguidos.

O capitalismo de plataforma é a ligação entre os conglomerados de plataformas e o mercado financeiro. Os investidores mais poderosos e ricos do planeta estão vinculados a essas empresas, como é o caso de George Soros, investidor do Twitter, da Amazon, do Google, Facebook etc.

O trabalho digital em plataformas configura-se como qualquer tipo de interação humana com meios  digitais  em  rede.  Essa interação propicia  uma  fonte  inesgotável  de  material  a  ser  transformado em valor de uso e valor de troca. (...) Todos os sistemas integrados das empresas atuam a partir de plataformas de informação. Essas plataformas de sistemas interligados propiciam processos de gestão de maior controle e vigilância do trabalho e dos trabalhadores. (FÍGARO; MARQUES, 2020).

Renovações das práticas jornalísticas

No cenário do capitalismo de plataforma, o jornalismo sofre consequências da  crise estrutural do capital. Dessa forma, a informação é vista como mercadoria  relevante para o sistema do capital, atraindo anunciantes, consumidores e investimentos.

Nas novas configurações de jornalismo pela mídia alternativa, ao mesmo tempo em que os arranjos se afastam dos conglomerados de comunicação, eles se veem dependentes das plataformas digitais para as redações virtuais.

Essas contradições se apresentam como tensionamentos dentro do próprio jornalismo, cujas novas marcas ainda não se consolidaram e os velhos modos de trabalho ainda não foram superados; aspectos comuns de momentos de transição, crise e realidades instáveis em que há um embate entre o inovador e o anacrônico dentro do processo de produção do jornalismo que nunca é pronto e acabado, ao contrário, está sempre se transformando. (FÍGARO; MARQUES, 2020).

A maior dificuldade dos veículos e coletivos de mídia alternativa atuais não são com quais meios fazer. Agora o maior obstáculo é a distribuição, circulação e ampliação do alcance do sentido do material produzido.

O trabalho digital no jornalismo: as redações virtuais

Sem as condições de trabalho ofertadas pelas corporações de comunicação tradicionais, o espaço virtual de plataformas como, Telegram e WhatsApp é utilizado por arranjos da mídia alternativa como locais de organização de trabalho. Esses arranjos de mídia desafiam os processos produtivos do jornalismo tradicional, para se constituírem em produção jornalística com redação virtual, mais horizontalizadas e com permanente debate sobre aspectos editoriais. Podemos tomar como exemplo analítico: Agência Pressenza, Jornalistas Livres e Opera Mundi. (FÍGARO; MARQUES, 2020).

Essas redações virtuais estão em aplicativos e softwares com origem no exterior (Estados Unidos e Rússia). As  plataformas em que estão inseridas apresentam seus próprios discursos ideológicos ao mesmo tempo que aparentam tornar as relações de produção espontâneas, sem hierarquia, livres e sem interesses no controle algorítmico. Elas parecem ser componentes da esfera pública, quando são privadas.

Os processos de transformações que alteram essas relações sociais são resultados do avanço das forças produtivas e da reformulação do sistema capitalista.  Isso não ocorre somente no jornalismo, porém, pelo valor da comunicação e por sua função de servidora ativa do sistema dominante, o artigo compreende as relações de trabalho do jornalismo como influente nessas mudanças.

Em meio a essas transformações e às novas formas de sistematização e tratamento da informação, os critérios definidores de noticiabilidade e valores-notícias se encontram em transição. Esses critérios são comumente encarados de formas subjetivas, exterior à práxis jornalística, e colocam o profissional distante do acontecimento cujo papel é apenas relatar o fato. De forma objetiva, a notícia ou produto informativo é resultado das negociações que acontecem em graus e motivações diferenciadas no seio do processo de produção desde a seleção até a publicação. O objetivo é atrair os leitores, chamando atenção para aspectos da realidade social que o veículo ou o coletivo seleciona. (FÍGARO; MARQUES, 2020).

Considerações finais

Para concluir, as autoras afirmam que mesmo com capitalismo de plataforma seguindo os objetivos originários do capital de gerar lucro e controlar mercados, os sites de redes sociais possuem também dimensões de socialização de conhecimento e novas relações produtivas que podem constituir uma cultura de resistência, cujo papel é contribuir com a diversidade e pluralidade de informação para a sociedade em busca de avanços civilizatórios.


Comentários

  1. Isso mesmo, Talita, partilhar os textos e aproveitar o que a gente lê no processo de aprendizagem. Boa resenha.

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