Processos e estratégias de comunicação: resenha do artigo de Oliveira e Paula (2010)
Neste texto pretendemos analisar e pontuar as principais características do artigo: “Para além das ideias e planos: processos e estratégias de comunicação”, de Ivone de Lourdes Oliveira e Maria Aparecida de Paula. Basicamente, o artigo vai situar e estabelecer as diferenças conceituais sobre processos e estratégias de comunicação no contexto das organizações. As autoras vão partir da ideia da comunicação como processo inerente e constitutivo das organizações, sendo então um processo complexo orientado por estratégias e grupos.
No senso comum, tem-se a ideia de que a comunicação é um fenômeno espontâneo e inerente à sociedade. Mas, além disso, esse fenômeno “se concretiza por meio de processos intencionais orientados por estratégias da organização e dos grupos envolvidos” (p. 1). Dessa forma, é um fenômeno que “pode ser pensado e, por isso mesmo, é intencional, direcionado e orientado por estratégias dos atores sociais, incluindo a organização” (p. 2).
Nesse sentido, as autoras, de acordo com o pensamento de Houaiss (2001), vão evidenciar o processo como um conjunto dinâmico de ações interdependentes e em constante atualização. Assim, embora seja sistematizado, um processo implica em relações coordenadas de interdependência, formando um conjunto coerente, por isso este se atualiza e se renova constantemente. Já conceito de estratégia é classificado como orientação intencional e articulada de ações, que direcionam processos numa determinada realidade, visando situações de médio e longo prazo.
A partir dessas ideias, elas apontam duas instâncias conceituais para compreender a dinâmica das interações no contexto organizacional: a comunicação como processo constituinte das organizações e o processo estratégico das organizações.
Ao estabelecer a comunicação como constituinte, elas vão destacar a sua característica de ampla abrangência social e os fatores de espontaneidade e intencionalidade incluídos no processo. Para Martino (2007), a comunicação implica intencionalidade. Já para Oliveira (2008, p. 97) a comunicação tem relação com organização à medida que “a comunicação é um constituinte das organizações, tome ela a forma dos processos espontâneos e informais presentes no cotidiano organizacional ou dos processos planejados”. Assim, há “um fluxo contínuo de informações e de troca de percepções sobre a atuação e as estratégias da organização, independentemente de ela ter seus próprios canais de comunicação ou adotar estratégias formais de informação e de relacionamento” (p. 3).
Outra questão levantada é que, nesse cenário de multiplicidade dos fluxos informacionais e mídias sociais, as organizações “perdem a centralidade do processo e deixam de ser o único polo de emissão”. Dessa forma, destacamos os processos espontâneos de trocas, que são independentes, e a comunicação formal, que seria as políticas da organização. Assim, são vários os discursos presentes nos processos interativos da organização e podemos perceber uma delimitação entre o ambiente interno e externo das organizações cada vez menor de forma que, as organizações ficam mais expostas e os grupos com os quais interagem têm variadas formas de comunicar-se e de comentar questões relacionadas à organização.
Em relação à instância do processo estratégico das organizações, as autoras vão pontuar esse processo numa perspectiva conceitual, buscando entende-lo como algo que envolve o homem, como ator social com possibilidade de interferência. Nesse sentido, “as estratégias de comunicação dizem respeito a necessidades e oportunidades identificadas pelas organizações no sentido de orientar suas interações com a sociedade, bem como apresentar publicamente posicionamentos sobre questões relacionadas à sua atuação” (p. 5). Entende-se, então, estratégia como orientação e referência para essa condução e tomada de decisões e ações. Assim, é importante que a organização “compreenda que os grupos interlocutores presentes no processo também têm suas estratégias comunicacionais, indicando que os processos de comunicação precisam ser orientados pelos diferentes interesses e perspectivas dos sujeitos na dinâmica interativa” (p. 6). Ou seja, as organizações convivem com estratégias de vários grupos, e é necessário que elas se atualizem a partir das demandas e expectativas dessas interações, levando em consideração os diferentes sujeitos que estão presentes no processo.
Segundo Richard Whittington (1996; 2004) podemos estabelecer estratégia como pratica social à medida que as pessoas criam estratégias no seu cotidiano e tendo em vista que o termo não se restringe às estratégias desenvolvidas pelas organizações. Nesse sentido, elas destacam que “os significados das estratégias são construídos a partir de relações permanentes da organização com as pessoas e entre elas próprias, que extrapolam seu âmbito de atuação” (p. 7). As estratégias surgem também por meio de outras fontes, de inovações informais e do aprendizado das pessoas no dia a dia. Assim, elas não são formuladas apenas com base em metodologias e orientações de especialistas.
Concluindo, de acordo com essas ideias, elas demonstram a não linearidade de um processo e de orientação de uma estratégia, o seu caráter de interdependência entre as ações e sua flexibilidade. Além disso, evidencial o momento atual em que há uma revisão de posturas organizacionais e entendimento dessa dinamicidade interativa das organizações com a sociedade. Portanto, as organizações começam a perceber que não é mais possível controlar os processos comunicacionais, nem deixar de reconhecer que cada interlocutor constrói sentidos para seus discursos e ações, pois as organizações são complexas e lidam também com a complexidade das questões sociais, econômicas, políticas e humanas. Logo, as estratégias estão presentes na sociedade e devem ser pensadas como prática social, envolvendo a organização e os seus diversos interlocutores.
REFERÊNCIAS:
OLIVEIRA, Ivone de Lourdes; PAULA, Maria Aparecida de. Para além das ideias e planos: processos e estratégias de comunicação. GT ABRAPCORP 2 (IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, 2010.
Muito boa a resenha!
ResponderEliminar