A quebra do monopólio esportivo intensificada por uma crise inédita

 


 Imagem: Memória Globo: João Miguel Júnior/Globo

               
          A pandemia do novo coronavírus virou o mundo de cabeça para baixo. Mudanças que estavam previstas para acontecerem no decorrer dos próximos anos ocorreram em míseros meses, transformando o mundo do trabalho, as relações sociais e outros setores da sociedade para uma forma que possa ser executada com biossegurança.
         A economia global retrocedeu ao nível de 2010, quando o mundo passava por uma grave crise econômica desde 2008. Pequenas e micro empresas foram ao nocaute por causa da força e da rapidez com que a pandemia chegou, causando uma falência em massa. Milhões de funcionários perderam seus empregos por causa da crise sanitária, levando o número de desempregados para 14 milhões, conforme os dados do Pnad Covid do IBGE, divulgados entre 20 e 26 de setembro.
        As emissoras de televisão não escaparam do golpe. Muitos funcionários, dentre atores e jornalistas foram demitidos ou migraram para outras emissoras por causa do enxugamento de gastos, perda de patrocinadores ou suspensão da gravação de alguns programas e novelas.
        A Rede Globo foi a que mais teve prejuízos, sobretudo no âmbito esportivo. O Grupo Globo perdeu alguns dos patrocinadores que bancava suas transmissões nos últimos anos, ocasionando uma perda de receita sem precedentes. O SBT, emissora que não teria o mínimo interesse em esportes em condições normais, se aproveitou do baque global e comprou os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América por pelo menos até 2022. Sílvio Santos quase comprou o pacote da Copa Sul-Americana, mas desistiu. A próxima investida de Sílvio é na Fórmula 1, outro esporte que a Globo detinha os direitos e que não pretende renovar esses direitos para 2021, por falta de recursos financeiros.
        A emissora da Família Marinho possuía um monopólio muito injusto sobre os direitos de transmissão de competições de futebol no Brasil, vôlei e Fórmula 1, mas vinha perdendo essa exclusividade quando os clubes do futebol brasileiro passaram a negociar com a Turner para transmitir a série A do Brasileirão. Os clubes que não detinham contrato com ninguém ficavam sem transmissão de seus jogos, ou criaram seu próprio Pay Per View, como fez o Athlético-PR.
       A Copa Sul-Americana foi outro campeonato que a Globo perdeu, antes da pandemia, para o serviço de streaming Dazn. Por causa da Covid, o Dazn também não conseguiu arcar com a competição que dá acesso para a Libertadores. A partir de agosto, a transmissão da Sul-Americana ficou por conta do Pay Per View Conmebol TV, emissora da Conmebol que também transmite alguns jogos da Libertadores.
      A Bandeirantes, que não transmitia o Brasileirão desde 2016 por causa da crise econômica causada pelo governo Dilma, agora possui condições de adquirir o pacote de transmissão da série A da competição.
       A crise da Covid-19 causou à Globo não só a perda de profissionais para outras emissoras, como também permitiu que outras emissoras sem histórico esportivo pudessem negociar direitos de transmissão de eventos de forma mais igualitária, já que uma das maiores emissoras do mundo perdeu boa parte da receita de seus anunciantes.
       Quem ganha com a crise do Grupo Globo é o telespectador, que agora, tem mais opções para acompanhar os torneios nacionais e internacionais, algo que o público sonhava há muito tempo. Quanto a Globo, somente lhe resta criar estratégias para reconquistar a audiência do público, que agora tem a concorrência do SBT, que possui a Libertadores e da Band, que vai voltar a transmitir o Brasileirão.
        Por enquanto, a Globo ainda não perdeu muita visibilidade, já que o Corinthians lhe garante muitos torcedores acompanhando a luta do clube contra a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Será que a medida que a Libertadores for chegando a reta final, a Globo consegue segurar os números a seu favor?
        Fato é que, como a pandemia está deixando muitas incertezas sobre o futuro, a Globo também não tem garantias de que as noites de quarta-feira e as tardes de domingo vão lhe render o primeiro lugar de audiência. Só o tempo e suas estratégias vão dizer. Vitor Faria Silveira, 23, estudante de Jornalismo.

               



























Comentários