O Senhor Estagiário: análise das relações de trabalho e gestão da comunicação

Por: Brígida Magalhães


                                                                                                            Crédito: Coisa de Cinéfilo 


“O Senhor Estagiário”, estreado em 25 de setembro de 2015, dirigido por Nancy Meyers, é um típico filme de comédia romântica estado-unidense, envolvendo tramas amorosas, amizades e ocasiões engraçadas. Mas, se formos analisar e refletir sobre essas relações, percebemos o quão grandioso e complexo é o conteúdo, nos apresentando uma visão panorâmica e interessante dos processos gestacionais empresariais.

“Amor e trabalho, trabalho e amor, é só isso que existe”, são os primeiros pensamentos do personagem principal, Ben Whittaker (Robert De Niro), uma frase significativa e que vai permear todas as situações durante o filme. Ben é um executivo aposentado, ficou viúvo há alguns anos e desde então, tem todo o tempo livre, buscando preencher essa falta e se manter ativo. Yoga, cafeteria, e muitas outras atividades até encontrar o anúncio de estagiário sênior, uma nova proposta da About The Fit", uma startup de moda de e-commerce em rápido crescimento no Brooklyn. A About The Fit é dirigida por Jules Ostin (Anne Hathaway), uma das personagens principais que divide a trama com o novo estagiário. Jules é uma empresária e CEO apaixonada pelo trabalho, dedicada, casada com Matt e mãe de uma criança, Paige.

O primeiro ponto interessante relacionado a gestão empresarial é o próprio anúncio de estagiário, que faz uma série de demandas: idade acima de 65 anos, competência administrativa, interesse em e-commerce e vontade de “arregaçar as mangas”. Além disso, exigindo que o currículo fosse enviado digitalmente através de um vídeo. Em um único anúncio contemporâneo, o senhor demonstra que não tinha entendimento sobre o termo “e-commerce”, sobre como fazer um vídeo e enviá-lo e mais: não entendia nem o trabalho da própria empresa, que era vender roupas pela Internet.

Após o processo de inscrição, ao chegar na empresa e passar por diferentes entrevistas, Ben se depara com um cenário totalmente novo: uma empresa grande, toda setorizada e digital, há muitas reuniões que duram menos de 5 minutos, os contatos com a sua chefe e outros departamentos são via e-mail, as ferramentas de trabalho não são as mesmas e há muitas qualidades que se espera do novo estagiário, como dedicação, empenho, inovação e conectividade. Nesse sentido, podemos afirmar que essa nova estrutura organizacional dessa empresa (e de todas as outras) estão baseadas no modelo produtivo “Toyotismo”, baseado em elementos da modernização tecnológica em que há uma flexibilização das formas de organização do trabalho, polivalência e multifuncionalidade do trabalhador, complexificando os processos produtivos. Isso não demonstra uma certa ignorância por parte de Ben, mas sim, que os tempos se modificam e, consequentemente, as relações empresariais também, em um ritmo muito acelerado. Em sua época, o formato de trabalho era outro, as relações comunicacionais eram face a face, havia uma obrigatoriedade de formalidade, não havia tantos setores e tantas reuniões, sem falar da multiplicidade de ferramentas digitais, como o notebook, celular, tablet e tantas outras.

No entanto, há certos atributos que são importantes desde que se estabeleceu conhecimentos sobre a importância da gestão da comunicação. Em seu primeiro contato com a empresa, o estagiário sênior afirma que, além de suas capacidades técnicas, como especialidade em vendas e propaganda e supervisor de impressões, que foram funções que ele havia praticado antes de sua aposentadoria, o seu diferencial é que ele é “leal, de confiança e bom nas crises”. Ou seja, em qualquer processo e modelo produtivo, esses atributos são essenciais para uma participação eficiente em alguma organização. De acordo com Kunsch, “à medida que as organizações não podem se isolar deste mundo em que estamos vivendo, que é o mundo da incerteza, das crises globais, das inseguranças, dos mercados financeiros voláteis etc., todos os atores sociais precisam participar contribuindo com aquilo que têm de melhor” (p. 37). Portanto, para que haja uma relação saudável de trabalho entre o “chefe” e o “empregado” e, consequentemente, para um resultado eficiente, é necessário que o trabalhador seja confiável e responsável com a empresa em que se estabelece.

Durante o filme, é interessante perceber a aproximação de Ben com seus colegas de trabalho, que são mais jovens, mas que ensinam uma quantidade de especialidades, técnicas e maneiras de se relacionar com o novo trabalho. Como também, o próprio estagiário, que ensina os seus atributos e conhecimentos para os mais jovens. E, uma dessas novas relações é com a sua chefe, Jules, que se tornou uma grande amiga. Inicialmente, ela estava resistente em conhecer seu novo estagiário, que foi solicitado para trabalhar diretamente com ela. Jules tem uma personalidade agitada, crítica, rígida e autoritária, está atarefada com muitas reuniões e todas as atividades da sua empresa, percebendo como há uma sobrecarga de funções e preocupações.

 No entanto, há um dilema principal que cerca a personagem: o seu braço direito, Jason, deseja que Jules reflita sobre a possibilidade de um diretor executivo, ou seja, um CEO para sua empresa afim de colaborar na gestão dos negócios. Porém, há uma resistência em aceitar essa proposta, já que, ela não está aberta na possibilidade de uma outra pessoa dirigindo as questões principais acerca da empresa, estando, então, acima de sua própria autoridade. No entanto, há vários problemas nos setores, o trabalho se estende para sua casa e, por isso, ela não tem tempo para outras instâncias de sua vida, como o relacionamento com o marido e a filha. Nesse sentido, percebemos que, apesar de ser uma ótima empresária e boa no contato com os clientes, a sua comunicação interpessoal é péssima. Esse foi um dos motivos para a sua resistência inicial para com o estagiário sênior, já que, Ben transparece confiança e amizade, quebrando as barreiras de aproximação com a personagem. Outro ponto de destaque, é que, apesar de estabelecer uma gestão multifacetada e setorizada, Jules não queria dividir o seu posto de trabalho. No entanto, é necessário que não haja trabalho sobrecarregado para uma gestão eficiente.

Dessa forma, a partir dessas problemáticas e questões interpessoais, o filme se desenrola com uma amizade entre os dois personagens, a interação do estagiário sênior com o novo mundo e o autoconhecimento de Jules em relação ao seu trabalho e à sua família. No decorrer do filme, há diversas situações e pontos que demonstram as características de uma organização no século XXI e a importância e papel de uma gestão comunicacional empresarial. 

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